Distúrbios da Personalidade do 1º grupo

  Considera-se uma personalidade perturbada ou em distúrbio quando os traços da personalidade da pessoa se tornam rígidos, excessivos, excêntricos e desadequados, impedindo uma adaptação saudável às mudanças do ambiente e um bom relacionamento interpessoal. Uma personalidade em distúrbio, desadaptada, provoca sempre um mau estar familiar, profissional e social, além dum angustiante sofrimento pessoal. As áreas perturbadas da personalidade começam por se manifestar na adolescência e persistem na Vida adulta, provocando maior ou menor grau de incapacidade pessoal e social e agravando-se consideravelmente em situações de maior stress. O diagnóstico do distúrbio da personalidade implica uma avaliação do funcionamento do indivíduo nos seus múltiplos e variados aspectos e a longo prazo, não se limitando a episódios patológicos isolados.

  Há a considerar 3 grandes grupos de distúrbios da personalidade, e a cada um pertencem vários tipos específicos.

Primeiro grupo – a este grupo pertencem indivíduos caracterizados essencialmente por possuírem pensamentos estranhos, comportamentos excêntricos, e uma mórbida tendência ao isolamento. Aqui se inserem os Paranóicos que na generalidade vivem de suspeitas e desconfianças infundadas, os Esquizóides são emocionalmente frios e têm dificuldade em estabelecer relações sociais, e as Personalidades esquizotípicas têm comportamento e funcionamento próximo da Esquizofrenia embora menos acentuado e limitante.

Esquizóide

  O distúrbio da personalidade do tipo Esquizóide é caracterizado por dificuldade de relacionamento com os outros e o indivíduo sentir sempre dificuldade no bom desempenho nas actividades sociais.

  Os traços esquizóides de personalidade revelam-se desde a infância e os indivíduos são solitários, estranhos, têm poucos amigos ou até nenhum; são excêntricos, pouco simpáticos, por vezes carrancudos e nutrem pouco ou nenhum afecto, assim como respeito pelos outros.

  São normalmente pessoas desinteressantes, inconstantes, incoerentes, e desinteressadas nas actividades do dia a dia. Os psicanalistas acreditam que esta perturbação da personalidade resulta duma relação mãe-filho instável, insegura, precária e muito pouco natural. Cerca de 10% das pessoas com personalidade do tipo esquizóide poderão vir a desenvolver uma esquizofrenia. Acontece que a Personalidade esquizóide agrava-se com o tempo, quando não devidamente tratada e segue-se naturalmente a esquizofrenia. Afirma a grande cientista Dra. Barbara Ann Brennan "que é possível que a primeira experiência traumática, no esquizóide se registou antes do nascimento, ou por ocasião dele ou ainda nos primeiros dias de vida". O trauma costuma centrar-se em redor de alguma hostilidade recebida directamente, ou de um pai que não deseja o filho, ou ainda o trauma durante o processo de nascimento como a mãe que se desliga do filho emocionalmente fazendo-o sentir-se abandonado, sentimento que o acompanha se sentir na mãe esse contínuo desapego. Sua falha fundamental passa a ser o medo, medo até de não ter o direito de existir.

"A nível do corpo, o resultado é um corpo que parece uma combinação de peças, não firmemente unidas nem integradas" afirma-nos ainda a Dra. Ann Brennan; e ainda "estas pessoas são normalmente altas e magras, e em alguns casos têm corpos pesados" devido também a pesadas tensões. "Um dos ombros pode ser maior que o outro; a cabeça frequentemente mantém-se inclinada de um lado com uma expressão vaga no olhar como se a pessoa estivesse parcialmente em outro lugar".

  Quando bebê, a personalidade esquizóide sentiu a hostilidade direta pelo menos de um dos pais, dos quais dependia a sua sobrevivência. Essa experiência deu início ao seu terror existencial, o que lhe vai ocasionar mais tarde uma grande dor ao aperceber-se que a pessoa necessita em absoluto duma ligação afetuosa e nutritiva com os outros seres humanos. Mas depois com os seus terroríficos medos, a sua solidão não foi capaz de criá-la na sua vida. São pessoas com insucessos nas relações sociais e afetivas, pelo que podem ter graves dificuldades no emprego e tormentoso relacionamento com alguns elementos de família. Quando a hostilidade se torna num ódio rancoroso contra esses elementos ou algum dos elementos entrou certamente na Esquizofrenia.

Esquizofrenia

  A Esquizofrenia destrói não só a vida dos doentes como a dos familiares mais chegados. No mundo ocidental a Esquizofrenia é responsável por 50% das admissões nos hospitais psiquiátricos. Há quem confunda os esquizofrénicos com as vítimas dos distúrbios de personalidade múltipla.

  A American Psychiatric Association distingue ainda a esquizofrenia dos distúrbios da personalidade esquizóide ou esquizotípicos, porque estes além do já descrito, implicam características e comportamentos bizarros e têm graves dificuldades no relacionamento interpessoal, indiferença pelos outros, pouca ou nenhuma afectividade, desconfiança extremamente exagerada, crenças esquisitas, estranhas, mas não apresentam delírios que começam a surgir quando a doença se aproxima da esquizofrenia nem apresentam tão profundas incoerências de pensamento. Os esquizofrénicos podem sofrer de alucinações auditivas, delírios (o que mais tarde explicarei), imaginação … Eles criam como imbatíveis situações reais, falsas e por vezes irreais convicções, como sentirem que estão a ser controlados por algo ou alguém, sem tal acontecer, ou até … quando chegam a um estado extremamente grave de loucura acreditam que lhes foi dada a missão de salvar o mundo da guerra nuclear!!!…

  Riem-se nos funerais ou quando os outros choram de sofrimento, choram quando os outros riem. Outros ainda têm dificuldade de executar as tarefas mais simples, ou são incapazes de falar coerentemente. Inicia-se geralmente entre os 15 e 25 anos nos homens, e geralmente 5 anos mais tarde nas mulheres. É de evolução muito prolongada e vai conduzindo à deterioração mais ou menos grave na personalidade e em qualquer desempenho social.

  Acabam por perder com o tempo a motivação, e a capacidade de atenção, de concentração, de raciocínio lógico e ficam incapazes para desempenhos profissionais ou sociais. Muito se tem estudado e investigado sobre as causas da esquizofrenia e existem várias teorias que a investigação científica procura cada vez mais esclarecer e clarificar.

  Os estudos actuais sugerem que a doença está ligada a desequilíbrios bioquímicos do cérebro. Outras causas podem ser factores hereditários, infecções virais, stresses muito graves, lesões cerebrais da infância, anomalias do sistema imunológico, e também relações sexuais parentais precoces como incestos, violações forçadas muito perturbadas; esta causa é mais um factor que uma causa única. Provavelmente a etiologia, isto é, as causas mais profundas e remotas dos processos que geram a esquizofrenia são multifactoriais, pelo que é imprescindível cada doente investigar o conjunto de factores implicados, para se poder organizar um plano terapêutico adequado.

  O diagnóstico de esquizofrenia deve ser feito ao longo dum período contínuo pelo menos de seis meses ou mais e especialmente com a quebra da realidade do doente com evidência da fragmentação e deterioração da personalidade em qualquer altura da vida do doente.

Paranóia

  É considerada uma doença psiquiátrica cuja característica central é um delírio (ideias falsas) bem organizado?! (explicarei à frente o que é um delírio) e geralmente com teor repetitivo. As ideias falsas persistem no tempo e são contraditórias às evidências da realidade, mas que não desorganizam completamente a personalidade e o funcionamento do indivíduo como na esquizofrenia. A paranóia também designa a mania da perseguição.

  O tipo mais comum destes distúrbios mentais é o delírio paranóide em que o indivíduo se sente especialmente perseguido e ameaçado por outros – a terrível mania da perseguição que consome e destrói.

  No paranóico um sistema delirante amplo e desfasado da realidade pode coincidir com áreas bem conservadas da personalidade, e do funcionamento social do sujeito, o que origina uma repercussão paranóica no funcionamento geral do indivíduo muito variável. O comportamento é bizarro e depende do âmbito mais ou menos restrito do sistema delirante, pois a atitude comportamental na sua generalidade é coerente com as suas convicções e suspeitas; por exemplo quando o delírio está ampliado abrangendo todos os familiares e colegas de trabalho, gerando-se no paranóico um conflito em que considera na generalidade que todos os indivíduos que o cercam o pretendem prejudicar, as suas atitudes de defesa ou de vingança tornam-se tão inadequadas e de extrema gravidade que conduzem a situações de extremas e graves deformações pessoais que podem prejudicar a sociedade que o cerca. Portanto no delírio paranóide o indivíduo sente-se perseguido e ameaçado por outros.

  Outra característica do paranóico é o delírio da grandiosidade que confere ao indivíduo ideais megalómanos sobre o seu valor, capacidades ou conhecimentos. A megalomania faz parte do paranóico, a mania das grandezas, acredita e tem delírios imaginativos de grandeza social ou monetária de ter e poderes superiores, sempre numa auto-imagem do melhor, vivendo numa ansiedade e credibilidade de uma situação a todos os níveis superior que se não conseguiu irá conseguir, mesmo que seja económica e socialmente impossível! Posiciona-se socialmente sempre em altos valores materiais e até laborais, se os não tem acredita que tem todas as capacidades para os ter. A ânsia do ter e do poder são insaciáveis.

  Os grandes estadistas sofrem muitas vezes de paranóia, julgando-se investidos de direitos divinos, e sentem-se sempre perseguidos e ameaçados por inimigos a abater. Foi assim que Plutarco viu Alexandre da Macedónia. Napoleão I era também, sob certos aspectos um paranóico. E Hitler era-o completamente! Freud ao constatar que o paranóico se sente habitualmente ameaçado e perseguido por pessoas do seu sexo, deduziu daí que o delírio da perseguição pode ser condicionado por uma atitude de defesa perante a homossexualidade.

  Outra característica é o delírio erotómano que faz com que o indivíduo se sinta profundamente desejado e amado por alguém de posição mais elevada e de facto muito distante. A erotomania, é outra manifestação que se expressa a vários níveis. É mais uma obsessão, a procura doentia dum amor ideal, especialmente do erotismo e da sexualidade. No entanto pode existir uma grande desconfiança em relação à sua capacidade amorosa, e a possibilidade do abandono da companheira ou companheiro, que se fazem sentir nitidamente nas formas de erotomania ligadas a certas representações muito precisas, como os fetiches, podendo chegar a fixações ou perversões, que já não implicam relação com qualquer parceiro amoroso.

  Há ainda a referir o "delírio do ciúme" – os ciúmes mórbidos – preocupação exagerada, descabida e fora da realidade, com a infidelidade sexual do parceiro, ou mesmo a obsessão dum caso mais íntimo de amizade que se torna intolerável para o doente. Este é por via de regra um homem que tem a suspeita ou mesmo a convicção que a parceira tem um caso amoroso ou mesmo que está mais ligada afectivamente a alguém que a ele. Tem uma atitude de espionagem contínua, atento a qualquer variação no seu comportamento, procurando provas, geralmente falsas para a sua suspeita. Frequentemente pode recorrer à violência física ou à tortura psicológica. O ciúme mórbido, patológico é inerente à personalidade do doente paranóico, que revela traços depressivos, insegurança, baixa auto-estima, e sentimentos de inferioridade sexual; estes traços de personalidade, presentes desde sempre, podem tornar-se mais evidentes e patológicos quando associados ao alcoolismo ou a síndromas cerebrais orgânicos. Os ciúmes patológicos constituem uma causa frequente de violência conjugal, que pode chegar ao homicídio do parceiro, seguido ou não do suicídio do doente.

Temos a considerar alguns tipos de paranóia:

A Paranóia Crónica que pode resultar de lesões cerebrais, abuso de anfetaminas ou de álcool, esquizofrenia ou distúrbio maniaco-depressivo. Pode também manifestar-se em pessoas com "distúrbio paranóide da personalidade" que se caracteriza por indivíduos muito desconfiados e sensitivos, com uma aparência emocionalmente fria, mas são extremamente vulneráveis, que se melindram facilmente; criando um ambiente de contacto humano bastante desagradável.

A Paranóia Aguda – que pode aparecer em indivíduos já com distúrbios prévios da personalidade, com crises com uma duração inferior a seis meses. Sofrem de alterações radicais no seu meio ambiental, como imigrantes, refugiados, recrutas que entram no serviço militar, sobretudo os que foram vítimas de hiper-protecção familiar, ou jovens que saiem de casa pela 1ª vez, quando também a super-protecção imperou. Em tais indivíduos, devido a possuirem uma personalidade vulnerável, grande predisposição a intensos stresses vivenciais levam-nos a uma ruptura psicológica mais ou menos transitória.

  Há também a considerar a Paranóia Partilhada, o delírio é partilhado por dois parceiros. Trata-se geralmente de um casal no qual um elemento dominante com distúrbio paranóide, incute e influência mentalmente as suas falsas crenças no parceiro mais fraco passivo e sugestionável. Habitualmente não existem outros sintomas de doença mental. No entanto habitam nos seus mecanismos psíquicos, a raiva, as desconfianças mórbidas, o isolamento social que vão marcando na continuidade do tempo uma crescente modificação comportamental no indivíduo que se vai tornando cada vez mais excêntrico, e tenta viver cada vez em maior isolamento social.

  Os paranóicos raramente se vêem a si próprios como doentes e normalmente só aceitam tratar-se por convencimento insistente de parentes ou amigos. Não se consideram doentes e não se querem tratar. A pessoa não tem consciência do seu próprio estado, da sua própria enfermidade.

Delírio

  Delírio – Ideia fixa, obsessão irracional, uma atitude inabalável mas falsa, errada, não compartilhada por outras pessoas a funcionar dentro da normalidade mental, do mesmo meio, da mesma cultura, e não cede a qualquer argumentação lógica. No delírio paranóide, o mais frequente, as ideias delirantes têm conteúdos de perseguição, especialmente vindo dos que estão mais em contacto, acompanhado, se as situações se proporcionarem, do ciúme patológico, mórbido. Uma pessoa com delírio de megalomania acredita e tem delírios imaginativos de grandeza social ou monetária de ter o que ambiciona, numa ansiosa credibilidade que é uma realidade absoluta para ele, mesmo que seja social ou economicamente impossível. Se as ideias delirantes obsessivas persistem são um sinal de doença mental grave, muitas vezes crónica, como a esquizofrenia. A erotomania é uma das mais graves facetas do delírio que se torna uma verdadeira obsessão.

Fonte: http://www.portugal-linha.net/arteviver/new_page_14.htm

Um comentário:

Unknown disse...

Pois é, depois de tudo isso que li,não só tenho uma familia com esse problema como vivo diáriamente com uma pessoa esquizofrênica,e desde que tomei conhecimento dete problema vejo que,perdi não só uma pessoa mais uma família inteira,pois se não internarem esta pessoa,ainda que particular,vejo que esta familia toda vai se destruir aos poucos,pois é muito sofrimento,se não tem cura pelo menos que se viva com dignidade,tanto o doente,quanto a familia,sem mais Alessandra Faria.